quinta-feira, 27 de maio de 2010

Notícia de última hora: extinção da RAVE

Claro que é possível que esta notícia venha a ser cabalmente desmentida ainda hoje pelo Governo... para amanhã ser confirmada e logo à tarde desmentida outra vez. Para no outro dia o Pinóquio vir dizer: é uma situação que está a ser ponderada... Este Governo é uma palhaçada total. Ainda anteontem escrevi ao Sr. Ministro António Mendonça a carta que anexo.
 
 
 
 
Alta velocidade

Empresa do TGV será extinta e integrada na Refer

Nuno Miguel Silva e Miguel Costa Nunes  
27/05/10 00:05

O projecto de alta velocidade ferroviária em Portugal está a ser discutido há cerca de 20 anos.
O projecto de alta velocidade ferroviária em Portugal está a ser discutido há cerca de 20 anos.
Adjudicação do primeiro contrato de TGV e adiamento dos outros tira sentido à RAVE.
A empresa pública encarregue de definir a estratégia para a rede de alta velocidade ferroviária em Portugal vai ser extinta. O Diário Económico apurou que a Rede de Alta Velocidade (RAVE) será dissolvida e os seus quadros profissionais integrados na Refer, a empresa, também estatal, encarregue da gestão da rede ferroviária nacional.
Apesar de fonte oficial do Ministério das Obras Públicas ter desmentido, o Diário Económico sabe que a RAVE, uma empresa pública constituída no ano de 2000 para assegurar a condução dos projectos dos troços de TGV em Portugal, vai ser dissolvida a curto-prazo.
Segundo fonte ligada ao sector, esta medida faz todo o sentido. Numa conjuntura de crise financeira internacional, em que a liquidez dos mercados é diminuta, o projecto português de alta velocidade ferroviária deixou de ser prioritário.



Nota:
Antigamente havia a ANA. Hoje temos a ANA, a NAV, e a NAER, respectivamente Aeroportos e Navegação Aérea; Navegação Aérea (?!); e Novo Aeroporto. Jobs for the boys.
Antigamente havia a CP. Hoje temos a CP, a REFER, e a RAVE, respectivamente comboios; vias férreas; e rede de alta velocidade. Jobs for the boys.
Quando é que o Pinóquio se desdobra em Rins, Fígado, Pulmões, Coração, respectivamente para transplante de rins, de fígado, de pulmões, e de coração? Isso é que era!






Exmo. Sr. Ministro da Obras Públicas,  Prof. Doutor António Mendonça:

Venho pela presente dar-lhe a conhecer uma carta que enviei recentemente ao Sr. Primeiro Ministro e que julgo que será do seu interesse ter conhecimento:

«Exmo. Sr. Primeiro Ministro,

nos últimos 3 anos da minha vida dediquei cerca de 2 horas por dia a estudar as questões do Novo Aeroporto e do impropriamente chamado TGV. Orgulho-me de estudar os documentos de uma ponta à outra e de os reler várias vezes. Estou ligado a um grupo informal de pessoas que têm lutado nestas questões. […]

Escrevo-lhe para lhe dar um conselho que acho que poderá ser um conselho triunfal. Um conselho que, mais tarde – encontrar-nos-emos algum dia, estou certo – dir-me-á que teve valor.

Sr. Primeiro Ministro, se quer ganhar a batalha do “TGV”, abandone a expressão TGV. Os portugueses já adquiriram um ódio visceral a essa expressão. Leia os comentários às notícias que falam sobre o assunto e verá. (O google tem a função de receber um aviso de notícias sempre que estas abordem a palavra TGV. Recebo cerca de 20-30 por dia). Mas, como estava a dizer, TGV, para os portugueses, significa despesismo, elefante branco, amiguismo, compadrio, apertar o cinto, corrupção, favores aos do costume, etc..

Não posso ser mais sintético sobre esta questão do que transcrevendo-lhe uma frase que afixo agora em todas as notícias sobre o TGV. Reza assim:

«Título: Resmas, paletes, de mercadorias!
Texto: Por que razão os políticos e a comunicação social chamam TGV a uma linha férrea? Como é que se confunde o meio de transporte chamado “TGV” com a infra-estrutura onde esse TGV (e outros comboios, desde que de bitola europeia!) circulam? Alguém fala em “Ferrari” quando se discute a construção de uma auto-estrada? Alguém chama “Boeing” a um aeroporto? Alguém chama “belo traseiro” à cadeira onde a dona do traseiro o senta? A conversa de malucos instituída pelos políticos e pela comunicação social vai continuar, ou isto é apenas o novo acordo ortográfico na sua pior expressão? É que se o investimento em TGVs (comboios) é uma insensatez, a construção de linhas de bitola europeia é absolutamente necessária! Ou vamos continuar a importar paletes de chocolate suíço e exportar resmas de papel e tudo o que é mercadoria por camião TIR? Alguém explica isto ao Sr. Presidente da República, ao Sr. José Sócrates, e ao Sr. António Mendonça? (p.s.: sou contra o TGV mas a favor da construção das linhas férreas em bitola europeia para transporte misto, isto é, de mercadorias e passageiros, a começar pela linha de Sines-Poceirão-Caia.)»

Excelência: evite ao máximo o termo TGV. O que os portugueses querem é uma ferrovia europeizada, sem custos megalómanos (quando o Sr. fala em TGV, activa nos portugueses, inconscientemente, a fobia aos elefantes brancos), em bitola europeia, que nos ligue directamente, sem transbordos caros e demorados, à Europa além-Pirenéus. Para dizer isto não só não é preciso falar em TGV como é até contra-producente fazê-lo.

Instrua, peço-lhe, o Sr. Ministro das Obras Públicas e restantes membros do Governo a fazer o mesmo. Seria bom que V. Exa. e o Sr. Ministro António Mendonça dissessem, nas várias intervenções que fazem amiúde à comunicação social, qualquer coisa como: “Bem, nós quando falamos em TGV, é preciso desde já esclarecer que é uma maneira, talvez não devidamente ilustrativa, admito, de falarmos das linhas férreas de bitola europeia que permitirão exportar e importar mercadorias a um custo muito mais diminuto que o transporte habitual – que como todos vós saberão é o camião, o camião TIR – e que permita, claro, igualmente, o transporte de passageiros num tempo e a um preço concorrencial”. É preciso subtileza para bem comunicar.

Sr. Primeiro Ministro, muito gostaria que esta minha ideia o ajudasse a explicar ao País o que quer para todos nós.

Com os meus melhores cumprimentos,

Gabriel Órfão Gonçalves»

Sr. Ministro das Obras Públicas:

Quero dar-lhe os meus Parabéns pela insistência no projecto das LEMAV (Linhas Europeias Mistas de Alta Velocidade) (por favor, Sr. Ministro, não lhe chame "TGV"! Desculpe a veemência da minha chamada de atenção, mas queira acreditar que é para sucesso, junto do povo, dos seus projectos!).

Agora a parte crítica: quando ligaremos os portos de Setúbal e Sines ligados ao Poceirão (excelente sítio para se fazer aí um nó de carga), mas por bitola europeia?
Considero um erro histórico ligar-se Sines a Espanha por bitola ibérica. É uma linha condenada a curto prazo! O dinheiro gasto nesta linha seria mais bem empregado na construção da ligação, sempre em bitola europeia, dos referidos portos ao Poceirão. Portugal precisa de dinheiro como nunca. Com uma rede coerente Portugal pode ocupar um lugar ímpar na Europa como porta de entrada e saída de mercadorias. Os portos portugueses possuem capacidades extraordinárias! Não é com ligações em bitola ibérica que vamos lá, Exa.!

Ainda vamos a tempo de parar a ligação em bitola ibérica e fazer tudo em bitola europeia.

Outro assunto: não acredito na viabilidade da exploração de comboios de Alta Velocidade (mais de 250 Km/h). Portugal deveria apostar tão só na chamada Velocidade Elevada (até 250 Km/h), que ainda assim permitiria uma ligação de Lisboa a Madrid em 3 horas e meia, segundo os meus cálculos.

E —sobre este assunto nunca lhe ouvi uma palavra, mas admito que seja devido a distracção minha—  quando decide a presente legislatura avançar para a reabertura da vergonhosamente extinta (por Durão Barroso!) SOREFAME? Já pensou em quantos postos de trabalho seriam criados? O orgulho nacional que tal projecto traria? O efeito indutor positivo para o restabelecimento de uma verdadeira e coesa indústria nacional de metalurgia e metalo-mecânica?
Peço-lhe, Sr. Ministro, que crie um grupo de trabalho para estudar a reabertura da SOREFAME. Portugal deve ter orgulho e ter a sua própria fábrica de comboios. O Sr. Ministro ficaria na História pelas melhores razões!

Renovo os meus sinceros Parabéns pela coragem em insistir na LEMAV Poceirão-Madrid (a ligação a Lisboa, abordá-la-ei noutra mensagem que lhe hei-de dirigir) e em dar o tão necessário "murro na mesa" em Bruxelas, exigindo que as nossas ligações em bitola europeia sejam consideradas, na sua muito feliz expressão "prioritária entre as prioritárias", e exigir da UE que os fundos de coesão sirvam para isso mesmo: para a coesão! Senti-me pois muito satisfeito com a sua decisão de pedir a Bruxelas que considere o eixo LEMAV Poceirão-Madrid um eixo prioritário!

Com os meus melhores cumprimentos,

Gabriel Órfão Gonçalves,
jurista




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