Veste-se de preto há tempo demais, tantas têm sido as perdas. Aos 63 anos, Conceição Alves chora a morte de mais um filho. "O que eu passei para os criar e vê-los agora partir assim.... é muito doloroso... custa muito aguentar".
Conceição olha as últimas fotografias tiradas por Fernando, o filho do meio. O mais velho "foi assassinado aos 26 anos", agora Fernando, 37 anos, morreu debaixo de um comboio. "Foi um herói para perder a vida assim, deste jeito" diz em jeito de pedido de desculpa.
Sem tirar os olhos das fotografias, Conceição revela que ficou viúva aos 37 anos. O marido, também ele trabalhava para a CP no Entroncamento, perdeu a vida num acidente às portas de casa, em Fazendas, freguesia de Ponte de Sor. Criou os três filhos rapazes sozinha. "O que eu passei para os criar.... nem imagina", vai dizendo, enquanto passa as mãos pela fotografia de Fernando. "Esta foi tirada no dia do casamento dele", conta.
Apesar da dor, Conceição acede a conversar mais um pouco. Vive com o filho mais novo, a nora e dois netos. "São a alegria desta casa", assegura, revelando que Fernando também tem dois filhos, a Beatriz, de 5 anos, e o João Pedro, de 9 anos. "São muitos agarrados ao pai e o pai tinha uma verdadeira loucura pelos filhos".
As lágrimas voltam a cair e Conceição diz que os dois netos vão ser acompanhados por psicólogos da REFER. "A Psicóloga telefonou à mãe e disse-lhe que ela tinha de contar o que aconteceu ao pai e os filhos é que decidiam se queriam ou não ir ao funeral", conta, adiantando que "a psicóloga disse que só podia vir cá a casa na próxima terça-feira".
Fernando Matos trabalhava há mais de 15 anos na REFER. Ontem, terminava o turno às 13 horas e regressava a casa, em Barrogueira, Ponte de Sor, para descansar. Entraria novamente ao serviço à meia-noite.
No Pátio do João da Luz, nos Riachos, a família de Olga e António vai começando a chegar ao final da manhã. Irmãos, primos, sobrinhos choram inconformados a perda dos idosos. "Eles iam a Lisboa ter com os filhos da Olga", revela uma vizinha, adiantando que os dois irmãos viviam ali sozinhos "há muito tempo" e, apesar da família "ser grande", os vizinhos acabavam por ser a companhia dos irmãos.
Olga e António deslocavam-se uma vez por mês a Lisboa, "para ir dar a reforma aos três filhos que vivem lá", diz uma moradora.
Alexandra Serodio
in Jornal Noicias
Descansa em paz amigo foste vítima do teu altruísmo eras um Homem com H bem grande
A suspeita de uma doença de coração, há nove meses, foi o susto da vida de Fernando Matos, funcionário da Refer há 15 anos. E agora, despistado o perigo, esperava ver crescer os filhos João e Beatriz, nove e cinco anos, até que ontem de manhã foi atraiçoado pelo destino, ao tentar salvar dois idosos, irmãos, na linha férrea do Norte, na estação de Riachos, Torres Novas. Morreram os três, trucidados pelo comboio SudExpress que passou a 160 km/h.
Fernando Matos, 37 anos, escorregou na passagem pedonal, em madeira, antes de conseguir avisar os dois irmãos, António e Olga Lopes, de 80 e 78 anos, do perigo iminente. O funcionário da Refer tentou salvá-los mas foram os três colhidos – ficando os corpos desfeitos e espalhados pela linha. O maquinista, que terá apitado ao aproximar-se daquela estação, só conseguiu parar o comboio 800 metros após atropelamento.
"Morreu com a idade do pai", diz, entre lágrimas, a mãe de Fernando, Conceição Rico Matos, contando que um acidente lhe levou o marido aos 37 anos e agora fica sem o filho mais velho. "Foi uma morte horrível. Um gesto tão bonito que ele teve, de ajudar os dois idosos, não devia resultar numa tragédia destas". Há uns meses, o operador de manobras da Refer, que reside em Ponte de Sor com a mulher e os dois filhos menores, receou ter um problema no coração, que afinal não se comprovou. Ao saber que os resultados dos exames não confirmaram as suspeitas do médico, disse, a sorrir, à mãe: "Pensava que ia morrer com a idade do pai, mas afinal ainda tenho uns anos pela frente."
Ontem, Fernando Matos saiu de casa bem cedo para mais um dia de trabalho. Pouco depois de chegar à estação do Entroncamento, local habitual de trabalho, seguiu para Riachos. Viria a ser colhido mortalmente pelo comboio SudExpress, proveniente de Paris com destino a Lisboa, pouco depois das 09h30.
Os 40 passageiros do comboio internacional não se terão apercebido do acidente e seguiram viagem passado pouco tempo, num autocarro fretado pela CP. A circulação na Linha do Norte esteve interrompida até às 14h30.
DISCUTIRAM NO MEIO DA LINHA
Os dois irmãos, Olga e António Lopes, viviam em Riachos, na casa onde a mulher criou oito filhos, de dois casamentos. Ontem de manhã, Olga Lopes ia viajar para Lisboa, para passar uns dias com os filhos, e queria que o irmão também fosse. Este acompanhou-a à estação, mas estava renitente em viajar, o que terá motivado uma pequena discussão no meio da linha. "Falei com ela ao telefone terça-feira, estava feliz, não merecia uma morte tão triste", disse o filho António, que a esperava no Cacém.
Fernando Matos, 37 anos, escorregou na passagem pedonal, em madeira, antes de conseguir avisar os dois irmãos, António e Olga Lopes, de 80 e 78 anos, do perigo iminente. O funcionário da Refer tentou salvá-los mas foram os três colhidos – ficando os corpos desfeitos e espalhados pela linha. O maquinista, que terá apitado ao aproximar-se daquela estação, só conseguiu parar o comboio 800 metros após atropelamento.
"Morreu com a idade do pai", diz, entre lágrimas, a mãe de Fernando, Conceição Rico Matos, contando que um acidente lhe levou o marido aos 37 anos e agora fica sem o filho mais velho. "Foi uma morte horrível. Um gesto tão bonito que ele teve, de ajudar os dois idosos, não devia resultar numa tragédia destas". Há uns meses, o operador de manobras da Refer, que reside em Ponte de Sor com a mulher e os dois filhos menores, receou ter um problema no coração, que afinal não se comprovou. Ao saber que os resultados dos exames não confirmaram as suspeitas do médico, disse, a sorrir, à mãe: "Pensava que ia morrer com a idade do pai, mas afinal ainda tenho uns anos pela frente."
Ontem, Fernando Matos saiu de casa bem cedo para mais um dia de trabalho. Pouco depois de chegar à estação do Entroncamento, local habitual de trabalho, seguiu para Riachos. Viria a ser colhido mortalmente pelo comboio SudExpress, proveniente de Paris com destino a Lisboa, pouco depois das 09h30.
Os 40 passageiros do comboio internacional não se terão apercebido do acidente e seguiram viagem passado pouco tempo, num autocarro fretado pela CP. A circulação na Linha do Norte esteve interrompida até às 14h30.
DISCUTIRAM NO MEIO DA LINHA
Os dois irmãos, Olga e António Lopes, viviam em Riachos, na casa onde a mulher criou oito filhos, de dois casamentos. Ontem de manhã, Olga Lopes ia viajar para Lisboa, para passar uns dias com os filhos, e queria que o irmão também fosse. Este acompanhou-a à estação, mas estava renitente em viajar, o que terá motivado uma pequena discussão no meio da linha. "Falei com ela ao telefone terça-feira, estava feliz, não merecia uma morte tão triste", disse o filho António, que a esperava no Cacém.
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