quarta-feira, 16 de junho de 2010

CP Carga já está em falência técnica

A CP Carga, uma sociedade anónima do grupo CP criada em Agosto do ano passado, chegou ao fim de 2009, após cinco meses de actividade, com 14 milhões de euros de prejuízo.


Actualmente, a empresa já consumiu os seus capitais próprios, pois os resultados líquidos negativos já ultrapassam os cinco milhões de capital social mais os 15 milhões de prestações acessórias com que iniciou a sua actividade. Os prejuízos são explicados pela recessão económica, que levou a um abrandamento da actividade industrial, logo à necessidade de transportar.

Este decréscimo verificou-se tanto em Portugal como no mercado ibérico. A CP inaugurou no ano passado um serviço em parceria com a Renfe, denominado Iberian Link, que não teve os resultados esperados.

Nos seus primeiros cinco meses de actividade (entre Agosto e Dezembro de 2009), a CP Carga teve proveitos de 25 milhões de euros, mais de metade dos quais provenientes do transporte de carvão, contentores e cimento. A excessiva dependência de um número restrito de clientes (Tejo Energia, Cimpor, Secil e MSC - Mediterranean Shipping Company) é considerada um dos seus pontos fracos e uma das razões apontadas para a autonomização deste negócio com vista a alargar o mercado.

Do lado da despesa, a empresa gastou 39 milhões de euros nos cinco meses de actividade em 2009, dos quais 14,4 milhões (36 por cento) dentro do próprio sector ferroviário: 5,5 milhões pagaram serviços e taxa de uso (portagem) à Refer e 8,9 milhões pagaram serviços à CP, parte dos quais gastos no arrendamento de locomotivas à CP Frota (unidade de negócios que gere o material circulante). Doze milhões de euros (30 por cento dos custos) representam despesas com salários.

Quando a CP Carga iniciou a sua actividade, herdou um conjunto de activos e passivos da unidade de negócios de mercadorias que valem 66 milhões de euros do seu passivo.

Mas a herança mais pesada parece ter sido o próprio modus operandi do transporte de carga em caminho-de-ferro, que acumula prejuízos. Segundo o presidente da CP Carga, José Soares, em 2008 este actividade gerou perdas de 25 milhões de euros e em 2009 a soma dos prejuízos da unidade de negócios durante os primeiros sete meses do ano mais a da empresa autónoma nos cinco restantes totaliza mais de 30 milhões de resultados negativos. Ou seja, mais cinco milhões de prejuízos do que no ano anterior.

No ano em vigor tem sido notório o decréscimo de transporte de carvão de Sines para o Pego (Abrantes), que é o maior negócio da CP Carga, mantendo-se a fase recessiva da economia, o que indicia prejuízos maiores e o recurso já aos empréstimos bancários, menos de um ano antes de ter sido criada. Optimista, o seu presidente diz que espera alcançar o break-even em cinco anos.

A CP Carga faz parte do pacote de empresas a privatizar a cem por cento, inscritas no Plano de Estabilidade e Crescimento, mas nem a CP nem o Ministério das Obras Públicas e Transportes responderam às questões do PÚBLICO sobre como seria privatizada esta empresa deficitária.





Carlos Cipriano
in Publico







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